Pá, levei tanto nas orelhas à conta disso que, na próxima reunião, nem abro a boca.
Ou, por outra, só abro para comer arroz de polvo!
Entretanto, e a propósito disso, vou-vos aborrecer com o texto de abertura dessa "interessante e actual discussão" no blog da minha família. É uma espécie de vingança.
E se me chatearem muito ainda tou capaz de aqui reproduzir o texto com que fechei essa mesma "discussão", quinze dias depois.
O texto de abertura foi este:
"Ora bem, com a possível excepção das crianças, já toda a gente na família sabe que eu sou um tipo insuportavelmente opinativo, por vezes inconveniente, mas sobretudo que gosto de discutir. E espero que achem também que, apesar de todos os meus defeitos, posso ser “malandro”, mas não mal intencionado.
Vem tudo isto a propósito da escolha do tema. Por um lado, não me apetecia escolher um tema pacífico ou inócuo, à imagem dos últimos que, apesar de divertidos, não eram propriamente estimulantes de discussão.
Por outro lado, também não me apetecia escolher um tema que, ainda que polémico no seio da sociedade em que vivemos, não o fosse no seio dos compressores (por exemplo, o aborto, a eutanásia, etc.).
Estive quase para escolher um tema que está na ordem do dia, e que se prende com as sucessivas machadadas que vêm sendo dadas no casamento civil (ou “contrato civil de casamento”, como quiserem), mas achei-o, desde logo, bastante inacessível aos mais novos, e depois, demasiado jurídico.
Assim, acabei por escolher um tema - o namoro - que reúne algumas qualidades:
a) refere-se a uma realidade/experiência que todos já vivemos pessoalmente, ou estamos a viver, ou vamos certamente viver, mais tarde ou mais cedo;
b) refere-se a uma realidade/experiência complexa, que (por razões muito diferentes) levanta angústias e preocupações a pais e a filhos, a novos e a velhos;
c) refere-se a uma realidade que, na nossa família, tem uma característica curiosa e até invulgar. Fala-se pouco disso. E o que se fala é, normalmente, ou dentro da mesma geração ou, quanto muito (não sei bem, mas suponho) as conversas inter-geracionais que ocorram acontecem apenas dentro de cada unidade familiar.
Não pretendendo “balizar” a discussão, julgo no entanto que é oportuno deixar desde já algumas “dicas” sobre o tema. Peguem nelas, se quiserem, ou abordem outras questões, se assim o entenderem, mas tenham sempre em atenção a larguíssima faixa etária dos compressores. Por outro lado, mantenham sempre, e na medida do possível, alheia a esta conversa a excessiva personalização dos vossos escritos. Não se trata aqui de relatar experiências pessoais, mas apenas de deixar expressa a reflexão que podemos fazer sobre elas e, também, sobre as realidades que vamos vendo à nossa volta.
Quanto às dicas propriamente ditas, deixo para já, estas duas:
1 - “A relação namoro/casamento”
Antigamente, podia haver casamento sem que tivesse havido namoro (com quem os jovens casavam era um assunto que pertencia a seus pais).
Depois, passou a ser pacífico não podia haver casamento sem prévio namoro, sendo aquele, e este, frutos de decisão exclusiva do “casal”. Nesta acepção (hoje considerada já clássica, quiçá ultrapassada), o namoro cumpria essencialmente a função de preparação para o casamento, seu lógico corolário. Assim, o namoro bem sucedido desembocava em casamento. O que o não era, acabava antes de lá chegar.
Hoje, o namoro pode ser um fim em si mesmo. O casamento, antes almejado como marca de sucesso de um namoro, passou a ser um misto de duas coisas:
a) uma meta inatingível, porque se pensa que só com muita sorte se encontra o “par perfeito” - e isto é o que pensam os que ainda julgam que o casamento, ao contrário do namoro, não é também ele uma “experiência” que pode ou não dar certo;
b) uma chatice, porque é igual ao namoro, só que com mais uns papéis por cima que não trazem vantagem nenhuma e, aliás, só estragam a “espontaneidade” da relação - e isto é o que pensam aqueles para quem o casamento é uma realidade tão “experimental” como o próprio namoro.
2 - As idades em que se namora
Hoje em dia, quem tiver um filho ou filha com 3 anos num infantário, já tem que suportar que pessoas suas conhecidas perguntem de repente ao seu filho/filha “então e já tens namorada/o?”. E que acham a sua pergunta muito divertida …
Mas, tirando essas “tonterias” de quem não tem nada mais inteligente para perguntar ou dizer, suponho ser pacífico que o “enamoramento” começa a despontar no início da adolescência. Numa primeira fase os sentimentos que provoca serão efémeros e sem qualquer espécie de significado relevante mas, com o avançar da idade, começarão a ter mais consistência e intensidade e tornam-se, também, mais duráveis.
E é neste contexto que, em condições normais e salvo ter-se o azar de nunca se ser correspondido, surgem os primeiros namoros, a quem os mais velhos chamam condescendentemente “namoricos”. É mais fácil situá-los em termos escolares do que propriamente etários, sendo que normalmente eles preenchem quase todo o tempo dos estudos secundários.
No entanto, e já na fase final do secundário, e na universitária que se lhe sucede, as coisas mudam. Gradualmente, talvez, mas é seguro que mudam. Até porque aqui já falamos de “pré-adultos”. “Pré”, porque apesar de maiores de idade estão longe de estar preparados - e capazes - para assumir sozinhos (ou com o/a namorado/a) a condução da sua vida. “Adultos”, porque ( e isto é inevitável nessas idades) acham que já sabem tudo ou quase, e que só lhes falta é a formação académica e o dinheiro necessários a que possam levar uma vida inteiramente independente.
Nesta fase, e pensem eles que o namoro é ou não uma fase de preparação para um compromisso mais sério, começam a achar - e olhando à sua volta têm boas razões para isso - que é natural e inevitável que o seu namoro envolva um relacionamento físico idêntico ao de um casal (já nem digo “casado”, porque sobre isso há opiniões de todas as espécies). Claro que aqui tudo se mistura, em enorme confusão. Por um lado, achar que a dimensão física de uma relação a “define” como mais intensa, mais estável, mais próxima e mais comprometida, (em suma, mais próxima do arquétipo do casamento) é um grosseiro erro. Por outro, porque isso faz lembrar o tipo que quer que um Clio “Sport” ande tanto como um Ferrari. A verdade é que não anda.
Cito aqui um excerto de um texto que encontrei a este propósito: “O namoro perde todo o seu sentido quando se transforma num grosseiro ensaio da vida conjugal. Deve-se esclarecer aos jovens que o namoro é um período em que se promete tudo, mas não se dá tudo. É um período em que a promessa de amor amadurece gradativamente. Se alguém dá tudo ou toma tudo num contexto que não é definitivo, busca algo que supera a condição presente, que é a de os namorados se conhecerem e saberem respeitar-se mutuamente.”
(quem quiser o texto de onde retirei este excerto que mo peça, por email, sabendo desde já que eu não concordo com tudo o que lá se escreve).
De qualquer modo, sejam ou não cometidos erros de julgamento, e isso é coisa a que todos estamos sujeitos, a verdadeira e mais importante questão começa depois de tudo isto. É a de saber se a experiência do(s) namoro(s) preparou, ou não, a vida nova que começa quando se alcança a almejada (e terrível) independência.
Antigamente (ainda antes do meu tempo, mais no tempo dos meus irmãos mais velhos), esta - a da independência - era a fase em que um namoro bem sucedido desembocava, de modo quase inevitável, em casamento.
Seguramente, isso acontecia porque antes a dita independência se alcançava mais cedo, e porque havia mais capacidade para, logo no fim do curso, se garantir um mínimo de auto sustentabilidade económica. Mas não é menos verdade que isso acontecia porque não era, nem socialmente nem familiarmente, aceitável que um “namoro” se arrastasse para lá da existência desse mesmo mínimo.
Agora já não é bem assim. Por um lado, os filhos permanecem inteiramente dependentes dos Pais muito mais tempo do que antigamente. Por outro, passar a ter “vida de casados” deixou de ser grande incentivo, porque a verdade é que hoje não há, na sociedade e na maior parte das famílias, qualquer censura para situações de “em casa dos Pais quando é preciso”, “com o/a namorado/a sempre que se puder”.
E assim, as idades em que se “namora” - se disso podemos ainda falar - estenderam-se enormemente, e julgo não estar enganado se disser que essa “extensão” ainda não parou. Já chegou aos trintas, e desconfio que daqui a mais dez ou quinze anos, chegará aos quarentas. Sempre jovens, claro.
O que levanta questões novas. Relacionadas com a capacidade de, depois de tantos anos descomprometidos, uma pessoa que já é para todos os feitos inteiramente adulta vir ainda a “passar a rebentação” e a ter sucesso num relacionamento que, queira-se ou não se queira, diga-se ou não se diga, admita-se ou não, continua a ser o corolário lógico de quem “namora” e se “enamora”: a constituição voluntária mas absolutamente comprometida de uma relação em casal e a subsequente constituição de uma família. Chamem-lhe “casamento”, mas só se quiserem.
É que, namorar, seja lá como for e mesmo com “faz-de-conta” de casamento, está para este como, na praia Grande ou da Figueira da Foz, molhar os pés está para nadar. E, se é verdade que mete medo enfrentar as ondas (e que há quem se afogue ou seja por elas enrolado), não o é menos que, se se aprendeu a nadar, é uma pena não ter a oportunidade de o fazer.
E assim termino o, provavelmente, mais longo “post” deste blog, desde a sua criação.
Espero que discutam muito.
Porque temo que - e houve quem mo dissesse - se calem."
PS - Glorioso, depois de me ter certificado que o Capitão tinha tomado nota do nº de telefone, editei o teu post, "a cause des mouches".
Beijos e Abraços, consoante ...